Autor: Dr. Fabrício Kleber.
As inúmeras habilidades humanas que nos definem como espécie (tais como: fala, cognição, controle motor e memória) estão relacionadas com a capacidade de interpretar e transmitir informações dos nossos Neurônios. Os Neurônios mais importantes, envolvidos com as funções corticais superiores, estão localizados no Córtex Cerebral. O controle do movimento é uma destas funções corticais superiores.
A nossa capacidade de interagir com o meio ambiente através de movimentos coordenados e programados com destreza e precisão são um dos motivos pelos quais a nossa espécie encontra-se em posição de destaque na cadeia alimentar. O controle do movimento inicia em uma região específica do Córtex Cerebral chamada de Córtex Motor Primário localizado no Lobo Frontal. Nesta região temos os Neurônios que possuem a função de comandar o movimento voluntário, ou seja, aquele movimento que pensamos em realizar de forma consciente e não apenas reflexa.
No entanto, não basta conseguirmos analisar o ambiente ao nosso redor e pensarmos em realizar determinado movimento. Para que o movimento aconteça de forma correta e sincronizada a informação deve iniciar no Córtex Motor Primário e após deve seguir um longo trajeto até a região motora da Medula Espinhal onde existe o início do nervo periférico, que então vai enviar a informação até o músculo específico. A informação originada no Neurônio do Córtex Motor Primário então é transmitida pelo Axônio, ou prolongamento final, deste mesmo Neurônio. Este Axônio muitas vezes possui vários centímetros e até mais de 1 metro para então conseguir percorrer o longo trajeto até a Medula Espinhal. Imagine a extensão que deve ser percorrida por um Axônio de um Neurônio motor de um jogador de basquete de 2,15 m, onde este axônio se origina no Córtex Cerebral e deve chegar até o final da Medula Espinhal!
Este longo prolongamento do Neurônio motor segue um longo percurso passando por diversas regiões dentro do Cérebro para então entrar na Substância Branca da Medula Espinhal. Este Axônio vai percorrer a Substância Branca medular até encontrar o nível exato em que se encontra o segundo Neurônio na cadeia de conexões da via motora. Este segundo Neurônio encontra-se no H Medular ou Substância Cinzenta medular e vai dar origem ao nervo periférico que por sua vez vai inervar ou se conectar com um grupo de músculos específicos. Imagine que o objetivo do estímulo seja enterrar a bola de basquete na cesta. Neste caso o estímulo terá de chegar até o nível da Medula Cervical onde temos a saída dos nervos que controlam os músculos dos braços.
O estímulo motor trafega pelo Nervo Periférico até o músculo específico. Neste local temos a interação entre o estímulo nervoso e o músculo em uma região específica chamada de Placa ou Junção Neuromuscular. Esta placa funciona de forma semelhante a Sinapse estudada nas partes iniciais desta Série, com a diferença de que aqui temos a Sinapse entre um nervo e um músculos e não dois Neurônios. O estímulo nervoso libera Neurotransmissores específicos na Sinapse da Placa Motora. Após os Neurotransmissores se conectam a Receptores específicos no Músculo. A conexão do Neurotransmissor com o Receptor causa diversas modificações na estrutura química do Músculo até causar como produto final destas alterações a contração muscular.
Assim, podemos notar facilmente que existem diversas etapas envolvidas desde a origem até a propagação do estímulo motor. Todas estas etapas devem ocorrer de forma rápida, organizada e harmônica para que o movimento possa acontecer sem erros ou lentificação. Quando alguma destas etapas não ocorre de forma correta temos o surgimento de doenças específicas. Por exemplo, um Acidente Vascular Cerebral pode lesionar o Córtex Motor e desta forma a origem do estímulo estará comprometida e o paciente vai apresentar perda de força ou paralisia. Podemos também ter um Traumatismo grave na Medula onde o segundo Neurônio na cadeia motora pode ser lesionado. Neste caso o paciente também poderá apresentar paralisia e com o tempo atrofia (diminuição do tamanho) do músculo. Por último, existem doenças que comprometem a comunicação entre o nervo periférico e o músculo como a Miastenia Grávis. Nesta doença os pacientes apresentam fraqueza importante principalmente após esforço vigoroso e repetitivo.
No próxima parte vamos aprender como funciona a Coordenação Motora.
Publicado originalmente em 2019 na plataforma Vitallogy.